sexta-feira, 24 de setembro de 2010

GEOMORFOLOGIA DO QUATERNÁRIO


Há tempos sem postar, daí lembrei de uns resumos que faço de vez em quando. Depois mando outros. Tem sempre alguém necessitando... Referencia: MOURA, J.R.S. _____. In: Guerra, A.J.T. e Cunha, S. B. (org.) Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

GEOMORFOLOGIA DO QUATERNÁRIO

Josilda R. da Silva Moura

1. Quaternário: Período de Transformações Ambientais Recentes

O Quaternário um período marcado por quatro grande eras glaciais que produziram os mais variados efeitos nas taxas de deposição, na pedogênese, nos regimes fluviais, etc. Sendo assim, a análise geomorfológica dos ambientes atuais constitui a base para a compreensão da seqüência evolutiva da paisagem do passado geológico recente.

1.2. Originalidade do Período Quaternário: o Homem, as Variações Climáticas

Durante o Quaternário desenvolveu-se muito do que hoje representa a superfície da Terra além do surgimento do homem.

O termo Quaternário foi proposto por Desnoyers (1829) para diferenciar os estratos identificados sobre os sedimentos do terciário da Bacia de Paris, sendo redefinido por Reboull (1833) para incluir todos os estratos caracterizados por vestígios de flora e fauna, cujos similares poderiam ainda hoje ser encontrados em vida. Avanços significativos vieram coma Teoria Glacial de L. Agassiz (1840), sendo o primeiro a reconhecer haver existido uma época próxima caracterizada por significativa expansão geográfica das geleiras. O avanço das geleiras passa a explicar as mudanças climáticas recentes.

O Quaternário é a última divisão do tempo geológico e considera-se que o mesmo tenha tido início há 2 milhões de anos estendendo-se até o presente. Divide-se em duas épocas: Pleistoceno e Holoceno.

Os mais importantes avanços no conhecimento do Quaternário puderam ser obtidos com o desenvolvimento do método de datação pelo Carbono 14 e com a investigações dos fundos oceânicos que possuem registro sedimentar não perturbado e bastante extenso e quase contínuo de todo este período.

A teoria de Milankovitch (1941) é a mais aceita para explicar a regularidade e a freqüência das oscilações climáticas quaternárias. Ela atribui essas variações climáticas a mudanças periódicas de magnitudes variadas na órbita e no eixo terrestre.

1.3. Desafios Metodológicos no Estudo do Quaternário: as Limitações das Abordagens Convencionais, o Caráter Multiinterdisciplinar.

O estudo do Quaternário, por tratar do Meio Ambiente, tem caráter multidisciplinar.

O reconhecimento estratigráfico dos depósitos sedimentares Quaternários, tem representado um desafio em nível de metodologia que os distinga com a necessária precisão.

O estabelecimento de uma litoestratigrafia (estudo histórico de um corpo rochoso) quaternária é dificultada pelo caráter fragmentário do seu registro deposicional, pela freqüente similaridade composicional e recorrência de fácies.

A proposição de unidade climatoestratigráficas, em função da reconhecida natureza climática do período em questão, foi considerada subjetiva demais (variações climáticas inferidas a partir do caráter sedimentológico, fósseis e solos). A exagerada ênfase climática dada à questão tem subestimado os demais processos.

2. Relações entre Geomorfologia, Estratigrafia e Pedologia no Quaternário.

2.1.Aloestratigrafia.

Unidades aloestratigrágicas – são corpos sedimentares estratiformes, mapeáveis, definidos pelo reconhecimento de descontinuidades limitantes, distinguindo diferentes depósitos de litologia similar, superpostos, contíguos ou separados geograficamente.

Cada unidade aloestratigráfica definida representa um episódio sedimentar principal, produto de um evento de “instabilidade ambiental”, quando seriam produzidas mudanças efetivas na paisagem.

2.2.Morfoestratigrafia:Frye e Willman (1962) propuseram as unidades morfoestratigráficas como unidade operacionais que determinariam corpos sedimentares identificáveis primariamente pela forma apresentada na superfície, podendo-se distinguir ou não pela litologia e/ou idade das unidades adjacentes.Meis e Moura (1984) sugeriram que o conceito de morfoestratigrafia fosse restringido às condições em que seja possível detectar, com base na lito- ou aloestratigrafia, uma relação genética direta entre o depósito e a forma topográfica (ex: rampas de colúvio ou tálus).

2.3.Pedoestratigrafia:A estratigrafia dos solos, ordenação cronológica dos episódios pedológicos, tem importantes aplicações na reconstrução de paleoambientes e na interpretação de seqüências estratigráficas onde os solos e perfis de intemperismo ocorram.

Paleossolos são indicadores favoráveis, pelo menos em escala regional, à subdivisão e correlação de seqüências sedimentares quaternárias.

Unidades pedoestratigráficas:

“São solos cujas características físicas e relações estratigráficas asseguram seu reconhecimento e mapeamento como tal” (Mendes, 1971) .

“Corpos rochosos constituídos por um ou mais horizontes pedológicos desenvolvidos em uma ou mais unidades litoestratigráfica, aloestratigráficas ou litodêmicas, e que estão recobertos por uma ou mais unidades lito ou aloestratigráficas formalmente definidas” (N.A.C.S.N, 1983)

Pedoderma (Cód. Estrat. Australiano)– unidade de cobertura de solo mapeável, parcialmente truncada ou inteira, situada na superfície ou enterrada total ou parcialmente, que possui características físicas e relações estratigráficas que permitem reconhecimento e mapeamento consistentes”.

A estratigrafia do solo é uma poderosa aliada na determinação mais segura da seqüência os eventos ocorridos no Quaternário.

3. Geomorfologia do Quaternário Continental no Brasil

A literatura do Quaternário brasileiro aborda problemas ligados à cronologia da sedimentação, a reconstituição de páleoambientes e a cronologia de eventos baseada em oscilações climáticas e variações do nível do mar, entre outras.

No século atual as primeira tentativas de interpretação da evolução das paisagens do sudeste do Brasil fundamentaram-se em concepções dedutivas.

Mais tarde verifica-se uma preocupação com a delimitação dos grande domínios morfoclimáticos atuais e sua comparação com os testemunhos da evolução quaternária.

As formas topográficas chamadas terraços representaram os principais indicadores cronológicos para o estabelecimento da estratigrafia dos corpos aluviais de ocorrência fragmentária.

Nos últimos anos foram realizadas tentativas de estudo da gênese e da estratigrafia dos depósitos coluviais quaternários do planalto sudeste do Brasil .

Considerando que as seqüências deposicionais constituem o único registro material da história evolutiva, a associação entre forma e depósito configura-se como instrumento imprescindível para a interpretação da dinâmica ambiental.

4. Geomorfologia do Quaternário Aplicada ao Planejamento Ambiental no Sudeste do Brasil

A elaboração de modelos de evolução da paisagem que possam ser adaptados às condições específicas de cada região deve buscar uma integração entre a Estratigrafia (estudo dos materiais deposicionais), a Geomorfologia (estudo das formas do relevo), a Pedologia (tipos de solos) e até a Palinologia (estudo dos pólens). Esses modelos facilitam na compreensão do problemas e na elaboração de políticas de planejamento, manejo e recuperação de área degradadas.

As feições geométricas e a distribuição espacial das unidades deposicionais constituem o produto da evolução da paisagem, representando o principal fator condicionante da distribuição dos processos atuais.