quarta-feira, 14 de abril de 2010

GEOMORFOLOGIA DO MARANHÃO I


Este texto foi publicado no Atlas do Maranhão, editado pelo IBGE em 1984. Esperamos que nosso esforço para digitalização seja uma reparação do desaparecimento dos dois volumes que existiam no "Laboratório" de Geografia do CESC/UEMA. Oportunamente publicaremos outros textos desta preciosa fonte.

Boa leitura.

QUADRO NATURAL

A feição primordial do relevo maranhense é conseqüência da evolução paleogeográfica da bacia sedimentar, cuja formação se estendeu do início do Paleozóico ao fim do Mesozóico, como referido.

As camadas sedimentares, de modo geral, se apresentam quase horizontais, com declives insignificantes para o norte, tendo originado uma topografia tabular ou subtabular, resultante da ação de processos e mecanismos morfogenéticos, atuantes sob climas diversos.

A feição primordial do relevo maranhense é conseqüência da evolução paleogeográfica da bacia sedimentar, cuja formação se estendeu do início do Paleozóico ao fim do Mesozóico, como referido.

As camadas sedimentares, de modo geral, se apresentam quase horizontais, com declives insignificantes para o norte, tendo originado uma topografia tabular ou subtabular, resultante da ação de processos e mecanismos morfogenéticos, atuantes sob climas diversos.

Para compreender a feição atual do relevo maranhense, devem ser examinados inicialmente os remanescentes da superfície de cimeira representados pela “cuesta”, chapadões e chapadas, da metade sul do Estado, os quais correspondem a prolongamentos da superfície elevada do Brasil Central, que perdem altitude lentamente em direção norte.

Essa superfície foi modelada durante quase todo o Terciário (cerca de 60.000.000 de anos), após um levantamento que se processou no fim do Cretáceo. O prolongado período de erosão que afetou a área provocou um aplainamento quase perfeito, durante o qual, até mesmo as camadas levemente onduladas foram truncadas, convertendo a área em um grande pediplano.

Os movimentos epirogênicos que ocorreram no Terciário Médio, ainda durante a elaboração da Superfície Sul-americana, provocaram um solevamento parcial da área pediplana e reativaram a erosão.

Nas áreas deprimidas depositaram-se sedimentos clásticos, mal selecionados, parcialmente laterizados, com cores que variam do amarelo ao vermelho, variação esta evidencia oscilações climáticas durante a deposição. O grau de laterização dos mesmos indica a predominância de condições de aridez, a qual a área esteve sujeita.

Estes sedimentos foram assinalados na chapada de Tiracambu, que, provavelmente, sofreu uma invasão de relevo. Podem ser correlacionados a outros depósitos encontrados sobre a Superfície Sul-americana em outras áreas do Brasil. Os geólogos tendem a correlacioná-los a Formação Barreiras Inferior.

No início do Mioceno, ainda no Terciário Médio, ocorreu um levantamento geral do continente que se processou de forma desigual. Nesta ocasião o clima era um pouco mais úmido, o que favoreceu a retomada de erosão, quando então as formas estruturais foram postas em realce, sendo elaboradas as “cuestas” e, como conseqüência da compartimentação da grande superfície, surgiu a atual paisagem dos chapadões e chapadas, com altitudes que variam de 800 metros na chapada das Mangabeiras a 300 metros na chapada de Tiracambu.

Na área de ocorrência de corpos ígneos representados, principalmente, por basaltos, que se apresentam como estratos-camadas, emprestando uma resistência maior à erosão, as chapadas e chapadões são como que emolduras por patamares estruturais bem marcados.

Ainda ligadas à compartimentação, com advento de um clima de maior aridez que ocorreu no Terciário Superior (Piloceno), desenvolveram-se áreas de aplainamento, domínio da erosão lateral, sendo então elaboradas as depressões intermontanas dos altos cursos e as depressões periféricas que emolduram o sopé das “cuestas”. Iniciava-se então o Ciclo Velhas.

Na área central maranhense, a menor resistência das rochas favoreceu a maior atuação dos processos de pediplanação desenvolvidos durante o Ciclo Velhas, originando uma ampla superfície dominada por testemunhos tabulares, remanescentes da Superfície Sul-americana.

A altitude da Superfície Velhas é variada, chegando a alcançar 300 metros nas depressões intermontanas no alto curso dos rios, descendo, progressivamente, a algumas dezenas de metros para o norte, onde é recoberta pelos depósitos da Formação Barreiras.

Sobre essa superfície, que corresponde a um clássico pediplano e que continuou a ser elaborada durante o Pleistoceno Superior, são encontrados depósitos sedimentares com horizontes de canga, depósitos argilo-arenosos e leitos de fragmentos de maior talhe. A natureza dos sedimentos atestam uma gênese sob condições de um clima de aridez acentuada.

Os remanescentes do Ciclo Sul-americano, por vezes rebaixados, lembram os “inselbergs” do Nordeste Oriental, havendo evoluído por processos morfoclimáticos semelhantes. Posteriormente, com a compartilhamentação da Superfície Velhas, sob condições de maior umidade, desenvolveram-se processos de mamelonização que afetaram a forma destes relevos residuais, que chegam a se apresentar ligeiramente arredondados. A preservação da feição tabuliforme foi possível pela existência de uma camada de fragmentos da crosta laterítica..

O trabalho de aplainamento foi favorecido pela menor resistência à erosão das rochas predominantes na área, pertencentes à Formação Itapecuru (Cretáceo).

Ainda no Pleistoceno, quando a área sofreu um movimento epirogênico positivo, começou a haver o trabalho de compartimentação através da rede hidrográfica que ali se instalou durante períodos de maior umidade, aproveitando as linhas de fraturas, que chegaram mesmo a afetar a Formação Barreiras, em conseqüência das reativações tectônicas que provocaram os últimos movimentos de conjunto, responsáveis pela formação do Arco Ferrer-Urbano Santos.

Na ocasião da formação desta arco deu-se a exumação da superfície pré-cretácea modelada em rochas pré-cambrianas, onde encontramos o Gurupi como um típico exemplo de rio epigênico, cortando indiferentemente a estrutura subjacente.

Junto ao litoral, a Superfície Velhas foi fossilizadas pelas formações terciárias e quaternárias, esboçando-se sobre as mesma uma superfície mais recente, referida por Lester King (1956) como do Ciclo Paraguaçu, que é mais nítida quando observada ao longo do litoral e nos baixos cursos dos principais rios.

Durante o Pleistoceno ocorreram movimentos eustáticos que foram responsáveis por regressões marinhas fazendo com que o nível do mar descesse consideravelmente, bastando lembrar que, durante a última glaciação (Würm), a descida atingiu cerca de 100 metros abaixo do nível atual.

Com a intensificação da erosão fluvial, toda a área recoberta pelos sedimentos das formações Barreiras e Itapecuru foi compartimentação, esboçando-se então o Golfão Maranhense e a própria ilha de São Luís.

Nessa ocasião, a fase de erosão remontante provocou um entalhamento enérgico ao longo dos vales, favorecido pela fraca resistência das rochas constituintes do substrato geológico. Nos principais rios, o trabalho erosivo alcançou centenas de quilômetros, ao longo de seus cursos.

Tal fato ocorreu aproximadamente 12.000 anos, quando então se iniciou a transgressão Flandriana, responsável pela subida do nível do mar até a posição atual, convertendo os baixos vales em largos estuários e delimitando enfim, a área primitiva do Golfão.

A advento de uma fase quente e de maior umidade favoreceu o desenvolvimento de processos de meteorização, iniciando-se assim a atual paisagem que tão bem caracteriza os altos cursos do Pindaré, do Mearim e do Grajaú, onde seus vales apresentam-se encaixados e seus leitos divagantes em meio à planície aluvial alongada.

A fraca declividade destes rios é conseqüência de sua recente história geomorfológica e favorece a navegação por embarcações de pequeno calado até a parte central do Estado, havendo sido, por muito tempo, as únicas vias de penetração na região.

Na área do Golfão a grande oscilação das marés (cerca de 8 metros), associada à fraca declividade dos rios, favorece a penetração de sua vaga remontante até dezenas de quilômetros nos vales dos rios. A ação das mesmas se faz também na diminuição da velocidade da corrente fluvial que, perdendo a capacidade de transporte, deposita uma parte de sua carga sólida, formando bancos de sedimentos, planícies aluviais e ilhas de pequena altitude, como a dos Caranguejos, esboçando-se a formação de “deltas internos”.

Como conseqüência da formação das planícies aluviais, alguns baixos cursos dos rios foram barrados, surgindo uma série de lagoas que constituem uma das feições geomorfológicas características da faixa sublitorânea maranhense, como aquelas encontradas na área do Golfão, nos rios Turiaçu, Pericumã e em alguns afluentes do rio Parnaíba, como o Magu, o Marique e o Bacuri.

É um fato notório o contraste existente entre os setores oriental e ocidental do litoral maranhense limitados, aproximadamente, pela área do Golfão.

O primeiro é um litoral retilíneo com restingas que tendem a desviar a foz dos rios para o noroeste, fato este facilmente comprovado a uma simples observação do delta infletido do Parnaíba e da foz do Preguiças, que constituem os principais rios do setor oriental.

A rede hidrográfica se restringe a rios de pequena extensão, cujos vales são modelados na formação Barreiras e seguem a direção NE do sistema de fraturas predominante. A única exceção é constituída pelo rio Parnaíba, bastante extenso, parecendo corresponder a um rio geomorfologicamente bem mais antigo.

Em direção ao interior, a faixa sublitorânea é constituída, sem dúvida, por um dos campos de dunas mais importantes do território brasileiro, conhecido pela denominação de “Lençóis Maranhenses”. Constata-se ai a existência de duas épocas de formação de dunas. A primeira se deu logo após a transgressão Flandriana, quando as grandes oscilações das marés, permitiam, durante a baixa-mar, exposição de larga faixa arenosa. O vento constante, transportando o farto material arenoso para o continente, originou dunas que recobriam grandes extensões, podendo ser assinaladas algumas localizadas a mais de 100 quilômetros do seu ponto de partida no litoral. Seguiu-se uma fase climática mais úmida, responsável pela fixação das mesmas, que foram parcialmente edificadas.

Bem mais recente, com uma nova fase seca, surgiu uma segunda etapa,

Com a formação de novas dunas que recobrem uma fímbria de terra ao longo do litoral.

Outra feição dos Lençóis Maranhenses é representada pelo campo de deflação, cuja gênese está intimamente associada á das dunas, sendo formado por areias esparsas pelo vento na superfície do terreno, constituindo uma camada, por vezes descontínua, que chega a alcançar alguns metros de espessura.

O setor ocidental do litoral tem seus limites a partir das proximidades das cidades de Primeira Cruz e Humberto Campos, sendo interrompido apenas pela golfão Maranhense. É um litoral constituído predominantemente, por uma série de reentrâncias emolduradas por terras baixas e lodosas, onde proliferam manguezais. Corresponde a um antigo litoral de “rias”, com largos estuários elaborados após a transgressão Flandriana.

Os sedimentos que colmatam as “rias” e constituem o substrato para os manguezais são bastante finos em conseqüência de processos de meteorização química, que predominam nesta porção do Estado, em função do clima mais úmido.

GEOMORFOLOGIA DO MARANHÃO II


Este texto foi publicado no Atlas do Maranhão, editado pelo IBGE em 1984. Esperamos que nosso esforço para digitalização seja uma reparação do desaparecimento dos dois volumes que existiam no "Laboratório" de Geografia do CESC/UEMA. Oportunamente publicaremos outros textos desta preciosa fonte.
Boa leitura.

GEOMORFOLOGIA

A ação do fluxo e refluxo das correntes de marés é responsável pela distribuição dos sedimentos que tendem a acentuar os pontões lodosos, que avançam pelo mar, e pela formação de ilhas, as quais sugerem uma origem ligada ao fracionamento daqueles por ocasião das marés equinociais.

A sedimentação é favorecida pelo tipo de raízes características da vegetação de mangues, que constituem obstáculos ao deslocamento do fluxo das marés.

Em alguns pontos do litoral, como ao norte de Alcântara, as vagas, solapando as rochas da Formação Itapecuru, originaram escarpas que constituem verdadeiras falésias.

Para o interior, a área que antecede o litoral propriamente dito, apresenta diversificações, litológicas, que se traduzem na feição do relevo. Enquanto a leste da baia de Turiaçu predominam rochas cretáceas de Formação Itapecuru, originando formas tabulares, resultantes da dissecação da superfície de aplainamento, para oeste, as rochas pré-cambrianas do núcleo Gurupi originam um relevo colinoso, derivado da compartimentação de uma superfície de uma pré-cretácea que foi parcialmente exumada.

As grandes unidades geomorfológicas que podem ser identificadas no espaço maranhense são:

Chapadões chapadas e “cuestas” – ocupando quase toda a porção meridional, corresponde à área dos remanescentes da Superfície Sul-americana, que perde lentamente altitude em direção norte.

Superfície maranhense com testemunhos – corresponde a uma área aplainada durante a ciclo Velhas, dominada, em parte, por testemunhos tabulares da superfície de cimeira, principalmente na porção central do Estado, estendendo-se em direção ao litoral.

Golfão maranhense – área resultante do intenso trabalho da erosão fluvial do Quaternário antigo, posteriormente colmatada, originando uma paisagem de planícies aluviais, ilhas, lagoas rios divagantes. Constitui o coletor do principal sistema hidrográfico do Maranhão.

Lençóis maranhenses – corresponde às faixas litorânea e sublitorânea da porção oriental, constituídas por restingas, campos e deflação e dunas.

Litoral em “rias”- corresponde à porção ocidental, onde “rias” afogadas foram convertidas em planícies aluviais e são emolduradas externamente por pontões lodosos e ilhas que se formaram pela ação das marés.

BIBLIOGRAFIA

AB’SABER, A. N. – Contribuição à Geomorfologia do Estado do Maranhão – Notícia Geomorfológica, lll (5): 35-45 Universidade Católica de Campinas, 1960.

__________. Participação das superfícies aplainadas nas paisagens do Nordeste Brasileiro – Geomorfologia, 19:38 p. – USP, Instituto de Geografia, São Paulo, 1969.

BRAUN, O.P.G. – Estratigrafia dos sedimentos da parte inferior da Região Nordeste do Brasil (Bacias de Tucano-Jatobá, Mirandiba e Araripe). Divisão de Geologia e Mineralogia, D.N.P.M., Boletim 236,75 p. – Rio de Janeiro, 1966.

____________ . Contribuição à Geomorfologia da Bahia – Revista Brasileira de Geografia. 42 (4): 822-861, Rio de Janeiro, 1980.

CAMPBELL, D.F. et aliii – Relatório sobre a geologia da Bacia do Maranhão. Boletim número 1 – 150., Conselho Nacional de Petróleo, Rio de Janeiro, 1949.

CODEMINAS - Relatório do Projeto de cadastramento e investigação geológica de ocorrência minerais no Estado do Maranhão – Bacias dos rios Itapecuru e Mearim – Convênio SUDENE – CODEMINAS, São Luís, 1976.

DOMINGUES, A. J. P. et aliii – Geomorfologia – Projeto Cerrado l – Convênio IBGE – EMBRAPA, Relatório inédito, 1980.

FERREIRA, E. O. – Carta Tectônica do Brasil – Nota explicativa – D. N. P. M. – Boletim número 1, Rio de Janeiro, 1972.

KING, L. G. – A Geomorfologia do Brasil Oriental – Revista Brasileira de Geografia 18 (2): 3-121, IBGE, Rio de Janeiro, 1956.

LOCZY, L. de LADEIRA, E. A. – Geologia estrutural e introdução à geotectônica, 528 p., São Paulo, Editora E. Blücher Ltda., Rio de Janeiro, CNPq, 1976.

MOREIRA, A. A. N. – Relevo – Região Nordeste. Geografia do Brasil, Vol. 2: 1-45 IBGE, Rio de Janeiro, 1977.

REZENDE. W. M. e PAMPLONA. H. R. P. - Estudo do desenvolvimento do Arco Ferrer – Urbano Santos. Boletim Técnico, PETROBRÁS 13 (1/2): 5-14, jan/jun., Rio de janeiro, 1970.

SOUSA, S. A. de – Bacia do Mearim l – Características físicas e condições de navegabilidade. Saneamento 52 ( 3 e 4): 102-126, jul-dez., 1978 e 53 (1 e 2): 12-21. Jan-jun., 1979, DNOS, Rio de Janeiro.

VAN EYSINGA. F. W. B. – Geological Time Table – Composição, 3 a ed. 1975. Elsevier. Amisterdam, 1976.