Hutton e Playfair. James Hutton (1726–1797) nasceu em Edimburgo, Escócia, e foi educado como médico, mas interessou-se pelas ciências, especialmente a química e a geologia. Talvez seja mais famoso pelo papel que desempenhou como dirigente de um grupo conhecido como os Plutonistas, o qual sustentava que o granito era de origem ígnea, em contraposição à escola Werneriana, conhecida como os Netunistas, que acreditava que o granito era um precipitado químico. Também reconheceu a evidência do metamorfismo das rochas, mas sua contribuição maior consistiu em expor o conceito de que “o presente é chave do passado”, estabelecendo assim a doutrina do uniformitarismo em oposição à do catastrofismo. As idéias de Hutton foram apresentadas pela primeira vez no trabalho lido perante a Real Sociedade de Edimburgo em 1785, o qual apareceu, três anos mais tarde, no volume I dos Transactions desta Sociedade, com o título Teoria da Terra, ou uma Investigação das Leis Observáveis na Composição, Dissolução e Restauração do Terreno Sobre o Globo. Em 1795, suas idéias apareceram em forma mais ampla em um livro de dois volumes intitulado Teoria da Terra, com Provas e Ilustrações. Esta edição foi de tiragem limitada e cara. Possivelmente as idéias de Hutton teriam sido perdidas ou demorado muito a serem aceitas, não fosse por que seu amigo John Playfair (1748–1819), professor de matemática e filosofia em Edimburgo, depois do insucesso de Hutton publicou, em 1802, sua Ilustrações da Teoria Huttoniana da Terra onde elaborou e ampliou os princípios de Hutton em forma de prosa científica, poucas vezes igualada pela sua clareza e beleza de expressão. Este livro era também menor e mais barato que o de Hutton e, por conseguinte, mais amplamente lido. Nele, Playfair apresentou as idéias e conclusão de Hutton tão claramente que seu efeito foi enorme, particularmente sobre Charles Lyell, quem posteriormente seria o grande representante do uniformitarismo.
Hutton projetou tanto no passado como no futuro os resultados dos processos que observou
Todo rio parece estar composto de um tronco principal, alimentado por uma variedade de ramais, cada um dos quais flui por um vale proporcional a seu tamanho, e todos em conjunto constituem um sistema de vales comunicantes entre si e tendo um ajuste tão delicado de seus declives, que nenhum deles se junta com o vale principal, nem a um nível muito alto ou muito baixo, circunstância que seria infinitamente improvável se cada um destes vales não fosse o resultado do trabalho do rio que corre nele.
Se, na realidade, um rio constar de um só canal sem tributários, fluindo por um vale reto, se poderia supor que alguma perturbação, alguma torrente poderosa, haveria aberto todo o canal mediante o qual suas águas são conduzidas ao oceano, mas, quando se considera a forma usual de um rio, o tronco dividido em muitos ramos que se levantam a grande distância um do outro, e estes novamente divididos em uma infinidade de ramificações menores, impressiona-se na mente que todos estes canais tenham sido lentamente escavados pela enxurrada e erosão do terreno; e que é mediante ligeiros e repetidos toques do mesmo instrumento que este curioso agregado de linhas foi gravado tão profundamente sobre a superfície do globo.
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