O CAMPO DA GEOMORFOLOGIA
Definições – Se definirmos a Geomorfologia sobre a base das três raízes gregas das quais se derivou a palavra, significaria “ descrição das formas terrestres”. Geralmente, se considera que ela é “a ciência das formas terrestres”, e assim será entendida, embora estendamos o conceito para incluir as formas submarinas. Segundo foi definido por Worcester (1939), é uma descrição e interpretação das características do relevo terrestre. Assim definida, seu sentido é consideravelmente mais amplo que como ciência das formas do relevo, já que podemos incluir dentro de sua esfera uma discussão da origem das formas terrestres maiores, tais como bacias oceânicas e plataformas continentais, assim como também de entidades estruturais menores, tais como montanhas, planícies e mesetas. As bacias oceânicas e as plataformas continentais são feições do relevo, mas parece que sua interpretação deve-se à Geologia Dinâmica e Estrutural. Nos interessaremos principalmente pelas formas menores desenvolvidas sobre estas características maiores do relevo.
A adoção do termo Geomorfologia para o estudo das formas do relevo se produz como conseqüência do descontentamento com o termo fisiografia, anteriormente aplicado a esta matéria. Fisiografia, particularmente como é empregado na Europa, inclui em grau considerável a climatologia, a meteorologia, a oceanografia e a geografia matemática. Se bem que continuar com a prática de restringir a fisiografia à discussão das formas do terreno, antes comum nos Estados Unidos da América, parecia preferível contar com uma denominação para este ramo da Geologia, que pelo menos reduza a confusão quanto a seu campo de estudo.
Geomorfologia é sobretudo Geologia, apesar do fato de que algo de Geomorfologia se ensina tanto na Europa como nos Estados Unidos como parte da Geografia Física. Na maioria dos cursos de Geografia, as formas do relevo são tratadas de forma mais ou menos incidental, como uma parte da descrição do ambiente físico do homem, mas, no geral ressalta-se a adaptação do homem às formas do terreno e seu aproveitamento por ele, em vez da descrição das formas terrestres em si.
HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DAS IDÉIAS GEOMÓRFICAS
Conveniência de uma base histórica – Os estudiosos sérios devem interessar-se pelo desenvolvimento do pensamento científico e pelos homens que contribuíram para o seu avanço. Considerar a história antiga como carente de valor para a apreciação do pensamento atual é, na realidade, uma falta de perspicácia. Estabelecer laços históricos é de utilidade inquestionável para o estudante, pois lhe permite introduzir-se no método científico (lógica indutiva). Pelo menos três benefícios distintos resultam de sua familiarização com o crescimento do pensamento geomórfico. O estudante adquire uma perspectiva melhor da qual pode apreciar o pensamento do presente. O fato de que a matéria não é estática lhe impressiona e, por conseguinte, mantém sua mente aberta a novas idéias. Além disso, percebe que a maioria das idéias que hoje em dia aceitamos como evidentes por si mesmas encontraram resistências quando foram propostas pela primeira vez e foram aceitas como corretas lentamente e de má vontade, e que possivelmente algumas das novas idéias que hoje desdenhamos possam finalmente resistir ao embate do tempo.
Idéias dos antigos
Já que as formas do relevo são os fenômenos geológicos de maior amplitude, a especulação referente a sua origem se sucede desde o tempo dos filósofos antigos. No entanto, não foi até que se admitiu que “o presente é a chave do passado” que o estudo dos processos geomórficos chegou a adquirir grande significação. Isto não se sucedeu até o começo do século XIX, e somente nas últimas décadas desse século se compreendeu a evolução sistemática das formas do terreno. Ainda que a separação da Geomorfologia como um subciência distinta aconteceu mais tarde, muitas de suas idéias básicas tiveram uma origem recente.
Uma discussão do desenvolvimento das idéias geomórficas bem pode começar com os filósofos gregos e romanos. O espaço não permitirá um desenvolvimento detalhado de suas idéias, mas daremos uma noção bastante correta delas se considerarmos brevemente os pontos de vista de quatro pessoas: Heródoto, Aristóteles, Estrabão e Sêneca.
Heródoto (485? –
Aristóteles (384-
Estrabão (
Senêca (?a.C. – 65 d.C.) reconheceu o caráter local dos terremotos, mas continuou com a crença de que eram o efeito da luta interna de ventos subterrâneos. Mesmo assim sustentava a idéia de que as precipitações eram suficientes para explicar os rios e ainda reconheceu o poder destes para desgastar seus vales. Assim, embora o conceito de que os rios elaboram os seus vales foi em certo sentido introduzido, as múltiplas derivações deste fato não foram percebidas até muitos séculos depois. Os antigos parecem haver se dado conta de que há uma relação genérica entre os terremotos e as deformações da crosta terrestre, embora tenham confundido causa e efeito e pensaram que os terremotos causam deformações.
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